sexta-feira, 15 de março de 2013

Crônica - Ano VI - Nº 193 - "Retranca"


Outro dia, ao assistir uma partida dessas de futebol, vi que um dos times jogava na mais absoluta retranca. 11 atrás, pouca preocupação em atacar, catimba... De dar raiva na torcida do outro time!

Até que, no finalzinho, o time retranqueiro foi castigado com um gol de raça. O time que atacou, de tanto martelar, ganhou seu prêmio. E quem preferiu ficar na medíocre retranca, com medo de se jogar, se deu mal.

A vida da gente também requer de nós que tomemos posição de uma das posturas: ou a da retranca, ou a do ataque. Temos várias ocasiões de ataque: ao querermos algo, alguém... Vencer os medos e arriscar. Há também ocasiões de retrancar, e pensar um pouco antes do salto final.

O problema está quando se adota de vez o esquema tático da retranca em nossas vidas. Podemos perceber a retranca de várias formas: quando nos pegamos fazendo as coisas com medo de errar, quando não tomamos coragem de dizer certas coisas ou encarar certos desafios, quando nos preocupamos demais com nossa imagem ou "no que vão pensar". Enfim, aquela retranca que nos inibe e, como diz um amigo meu, "faz ter a corda tensa", que pode estourar de vez no mínimo toque. Retrancas como essa nos faz ter medo e insegurança em tudo o que fazemos, como se já entrássemos no jogo com a certeza da derrota. O que é a pior das circunstâncias.

Para irmos com mais ímpeto no encontro da vitória, que tal nos jogarmos mais? Perdermos certos receios que só entravam a nossa vida e nos fazem ir para trás quando talvez estivéssemos a dois passos do tesouro. A vida realmente poderá nos fazer gols (e golaços!) nos contra-ataques, mas antes de pensarmos nisso, é pensar nos gols que antes faremos. Não fez sucesso o recente time que tinha uma defesa péssima, mas um ataque que supria, a ponto de ganhar jogos épicos por 5x4, 7x3, etc? Eu tô nessa fase, de jogar menos na retranca e me jogar mais nos sonhos e projetos, sem medo de ir para as cabeças. Aliás, talvez uma das conquistas destes últimos anos foi a de "afrouxar um pouco mais a corda" e jogar o jogo sem cagaços de tempos anteriores. 

Se vou/vamos perder, sofrer derrotas? Algumas delas só saberemos jogando o jogo, mas e daí? As vitórias de quem se propõe a jogar sempre sobrepujarão qualquer derrota, e águas passadas darão lugar a águas limpas e recentes de novas histórias pra contar, com novas pessoas e paisagens - aquelas que tem de estar conosco, aliás. Sem falar que das derrotas aprendizados sempre surgem - aprendizados que talvez não viessem com vitórias "fáceis".

A missão está aí: sair da retranca e se jogar um pouco mais, sem se esconder embaixo da cama desse vidão que chama a gente! O novo Papa, aliás, em uma de suas primeiras falas convidou a cristandade a se jogar mais na missão e fugir da "filantropia barata". Talvez seja exatamente o que precisamos para dar uma guinada maior nesse mundo: ver justamente as pessoas de bem saírem da retranca e se jogarem no mundo com sua postura, valores, força. Afinal, muita gente venenosa hoje faz exatamente o que cobramos aqui: jogam no ataque, sem dó, em todos os ramos, já que não tem adversários à altura.

E aí, vamos jogar o jogo no 2-3-5, ao invés do 5-4-1? Menos retranca e mais ação, pra ganhar a peleja final!

São Paulo, 14/03/2013. W.E.M.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Crônica - Ano VI - Nº 192 - "O que serão dos 29?"

Mais um 15/02 à vista. O último na casa dos 20 anos, pois os 30 batem à porta. Sem medo da idade: aprendi há tempos que a idade é um estado de espírito: velhos que são novos, novos que são velhos, adultos como crianças, crianças como adultos...

Entretanto, por mais que eu tenha essa visão da idade, de que nós a formamos de acordo com nosso estado de espírito, uma coisa é certa: esses 29 chegam sendo tempos de reflexão pessoal e traçar metas, em diversos aspectos.

Pra começar, no aspecto pessoal. Certa vez, com um amigo conversando pelo pátio da GeoUSP por volta de 2011, ao observarmos que ao nosso redor havia uma geração que desconhecíamos, de que a popularidade e os amigos de anos anteriores tinham ido embora para dar lugar a novos lugares e pessoas a conhecer, vimos: por aqui, está encerrada a história, é momento de começar um novo capítulo. E assim foi desde então: não dava para almejar ser o mesmo Wanderlei do início da faculdade, ou ser o Wanderlei de 8, 9, 10 anos atrás (o Wanderlei dos 19 para os 20). A gente tenta não mudar ou se esforça para manter conosco tantas pessoas e ambientes que passaram por nós, mas em certas coisas isso é inevitável. Confesso que essa conclusão não foi fácil de chegar, e foi algo recente, fruto dos acontecimentos cotidianos.

Portanto, os 29 que chegam vêm com o desejo de se crescer para dentro, em não ficar preso em sentimentos, pessoas e histórias passadas, tal qual quando lemos um livro: podemos até em certos momentos voltar alguma parte, mas a ordem certa é segui-lo adiante, até o final. O momento é o Dorô, a pós, e adiante um novo trabalho. Mas sempre no rumo adiante, sem voltar ou ficar com nostalgias desnecessárias.

Os sonhos também mudaram. Lá antes dos meus 25, os objetivos eram mais soltos, sem tanta objetividade, querendo mais viver a cada dia sem ficar preso a metas. Depois da saída da faculdade e carreira docente iniciada, as perspectivas vêm sendo outras. O sonho da estabilidade profissional, financeira e independência pessoal ganharam corpo e as placas indicativas de que estes figuravam o novo capítulo a se iniciar se confirmaram. Esses 29 que chegam trazem consigo, mais que em meus 28, 27, 26 anos o desejo de finalmente, depois de tantas horas de voo nos estudos, trabalhos e etc, um pouso definitivo nessa estabilidade sonhada.

Nas amizades e relações, os 29 também chegam pedindo para não olhar para trás e não se prender tanto às pessoas. Costumo dizer que nos últimos anos "vendi o peixe" de minha pessoa, e que agora é hora de fechar a "loja" e se valorizar mais. As pessoas que querem minha companhia e atenção, essas sim é que merecem foco; não dá para ficar dando murro em pontas de faca por aquelas pessoas que não querem ou são indiferentes ao nosso trato. Os 29 chegam pedindo para não correr atrás, valorizar mais quem lhe valoriza, e deixar acontecer com naturalidade as coisas da vida, ao invés de querer forçar situações, como em alguns momentos nos últimos anos eu fiz.

Enfim, chegaram os 29, com sua leveza e ao mesmo tempo suas necessárias reflexões. O que serão desses 29? Quem cruzará meu caminho, ou estará comigo, ou os sonhos que virão a se cumprir durante eles até os 30 chegarem? Essa eu deixo para meu Pai responder, como até agora respondeu. O que Ele quer, e vejo isso em nossas "reuniões diárias", é que eu viva a vida, siga em frente, faça de cada dia novo um novo capítulo como foi até agora, mas agora com um toque especial: vislumbrar com maior clareza os objetivos dessa vida, que se há alguns anos estavam mais ocultos, se concretizaram e se revelam claros nos dias atuais. É hora de dar cada passo mirando sem receio algum esses objetivos que espero nos 29, ao invés de deixá-los para depois. Se tiver que ser depois, ou agora, ou não tiver de ser isso não sei, só Ele sabe, e conta com minhas ações para me dar a resposta, como sempre fez nesses 28 anos e 11 meses de estrada.

Respondendo a um questionamento que ouvi recentemente de uma amiga, que achava que eu tinha mudado, digo que não mudei. A essência, valores, continuam os mesmos: continuo aqui, no mesmo palco. A diferença é que o script (incluindo paisagens, personagens, etc) para essa minha peça chamada vida se mostra com novas falas a declamar. E serão declamadas nesses 29 que chegaram.

São Paulo, 08/02/2013. W.E.M.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Crônica - Ano VI - Nº 191 - "Hoje"


Primeira crônica do novo ano! E ela vem com um título bastante sugestivo para os prognósticos para este novo ano: o hoje.

Uma das quais não posso reclamar sobre minhas atuais férias é de não ter encontrado meus amigos: tenho estado com eles, revendo a turma e pondo a prosa em dia. Pois bem, nessas prosas um ponto que venho batendo, quando me perguntam sobre o que me esperam diversos assuntos, é essa palavrinha chave: o hoje.

E por que o hoje? Pelo fato de, nos últimos tempos, ter pensado demais em amanhãs. Em prognósticos. E nisso confesso que me estrepei. Além disso, anos decisivos se colocam adiante: a chegada aos 30 em 2014, a expectativa de independência (sim, os anos seguintes preveem uma fase mais independente financeira e pessoalmente)... até mesmo a vinda do sobrinho no mês passado ajudou a pensar mais nisso, a olhar com mais carinho para a frente, mas via hoje.

Ultimamente, todas as vezes em que quis fazer prognósticos, especular, sonhar acordado, eu dancei. Seja em assuntos profissionais, assuntos do coração, ideias, planejamentos... Não, calcular em demasia me trouxe mais frustrações que benesses. Entretanto, nas vezes em que quis deixar rolar, onde não parei para especular e fui dar tempo ao tempo, obtive boas surpresas. Em Dezembro passado, por exemplo, onde a aprovação em um concurso inesperado pintou. Ou então naqueles planos de última hora, nos planos bacanas onde não pestanejei para ir lá e fazer. OU ainda: nas vezes onde troquei o amanhã talvez pelo agora, já. "Hodie, nunc", como diria meu santo favorito!

Conforme mencionei na última crônica, 2013 começa com o lema de ser um ano sem tempo a perder. Portanto, é pensar no hoje, no dia que começa como se fosse um capítulo de um livro. O livro nasce exatamente da junção desses capítulos, e assim tem que ser nossos dias: com suas histórias, vitórias, aprendizados, fracassos. Olhar muitas vezes para trás ou ficar voltando em capítulos passados não basta para agora: é olhar adiante através do agora, no que acontece nesse exato momento mirando com isso o futuro. A vida e os mestres (como uma vez me falou meu orientador de mestrado) vêm me ensinando nos últimos tempos que os sonhos concretizados nada mais são do que consequências de nossas ações de agora. Se por acaso paramos essas ações para ficar mirando o que passou ou em longos devaneios, não avançamos. É saber o que se quer e tocar em frente, sem retrocessos. E aquilo que por acaso ficou para trás, se um dia realmente valer a pena, naturalmente voltará a cruzar nosso caminho, por meio do nosso andar adiante que nos levará a cruzar de novo com essas situações.

Que 2013 seja um ano de não sentar à beira do caminho, como diz a canção. Sentamos à beira do caminho quando empacamos na nostalgia de olhar para trás: para trabalhos que não nos deram o devido valor, pessoas que não querem que caminhemos junto a elas, situações de humilhação, dor, tristeza que nos acorrentam em átimos de relembranças. Todas essas situações podem virar pó quando simplesmente... optamos por nos levantarmos e prosseguirmos no caminho, construindo novas histórias, conhecendo lugares, gente, e assim construindo nosso caderno de histórias. Aliás, é o motor que não nos deixa cair em depressões e angústias: é certeza de eficácia contra os maus fluidos viver o hoje, agora, sem parar para remexer o baú do velho, do que já passou e não deve mais voltar.

Vamos viver o agora, o hoje? Temos cerca de novos 350 dias do ano para essa experiência. 350 chances. 350 ocasiões. 350 pessoas, 350 lugares, 350 capítulos, 350 o que quisermos. Basta levantar esse traseiro, olhar adiante e ir. E se por acaso estiver difícil para se levantar da beira do caminho, não tenha receio de aceitar as estendidas de mão que lhe aparecerem para te ajudar a se levantar e prosseguir. Principalmente as estendidas de mão do Chefe, que está sempre por nós e nos quer em pé.

Vem cá, se precisar lhe ajudamos a levantar. Vamos prosseguir nesse 2013, juntos!

São Paulo, 17/01/2013. W.E.M.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Crônica - Ano VI - Nº 190 - "Valeu, 2012. 2013: sem tempo a perder"


Minhas sinceras desculpas aos que curtem minhas crônicas de Face e Blog. O final deste ano de 2012 foi intenso, com os trabalhos da Escola em alerta total, concurso, reuniões do mestrado, TCC de Pedago e várias coisas mais. E quem pagou o pato foram meus escritos.

Mas abandonar, jamais. E agora, um propósito no ano VI de crônicas e 2013: escrever quinzenalmente, mesmo que crônicas reduzidas. Escrever é terapêutico, e nada pior que quebrar uma terapia, hehehe...

O que escrever nessa crônica após dois meses de ostracismo? Bem, já que a virada se aproxima, um mini-balanço de 2012 e prognósticos de 2013.

Sobre 2012, o saldo foi positivo. Mas foi um positivo diferente, confesso: um saldo positivo pautado mais nas voltas por cima após contrariedades que as próprias vitórias em si.

Quais contrariedades? Ah, posso listar várias. No campo profissional: infelizmente vi, vivi e ouvi coisas que preferia não ter ouvido, além das dificuldades que sempre aparecem na profissão docente, normais. Contrariedades nos projetos pessoais, que nem sempre foram do jeito esperado (além de "sustos" ruins e ótimos como meu pai doente - mas já sarou - e a chegada do sobrinho, respectivamente). No campo amoroso: nãos e indiferenças que me fizeram calejar e pensar (e amadurecer) mais sobre o assunto. Até no campo futebolístico, onde enquanto no primeiro semestre os rivais comemoravam e zoavam, no segundo meu time deu a volta por cima (e eu acompanhei mais meu time ao vivo, no meio da galera). Poderia fazer um balanço muito maior de 2012, mas considero um ano importante, pois me calejou em diversos assuntos.

Agora, 2013. O que dizer de 2013? Meu slogan para 2013 é: um ano "sem tempo a perder", e que será corrido, mais corrido que 2012. O ano de 2013 promete muitos desafios, em todos os campos. Terminarão o Mestrado e a Pedago. Começará provavelmente um novo desafio profissional na vizinha São Bernardo do Campo, sem contar outros projetos em vista que, pra agora, ainda não posso contar. Posso incluir aí no pacote minha volta ao time dos esportistas, quase que um "dever de consciência" para o ano que chega. 

Mas não falo só dos aspectos acima, ao me referir a 2013. Quando digo que 2013 deve ser um ano sem tempo a perder, me refiro também às oportunidades que não deram certo em 2012, e que deverão acontecer em 2013. Muito do que foi projetado e não vingou há exatamente um ano se deve a perdas de tempo. Perdas de tempo com horários mal aproveitados (por preguiças, faltas de planejamento e etc...), pessoas que não queriam minha companhia e atenção (e que continuei insistindo - tolo, eu), incumbências que sequer deveria ter passado perto, e mesmo assim, com o intuito de querer ajudar, peguei e me f...errei. Perdas de tempo para adiar o que deveria já ter começado, ou começar aquilo que sequer deveria ter começado. Perdas de tempo, muitas vezes, não sendo eu mesmo: querendo mudar um pouco do que sou pensando ajudar quem está ao redor. 

Perdas de tempo ao não amar, correr, escrever, curtir, rezar mais e muito mais, e trocar isso em ocasiões diversas por outros pensamentos que, ao refletir, se mostraram não valer a pena. Escamas que tapavam a vista do real e das legítimas possibilidades caíram dos olhos. 

Como disse, o ano de 2012 me calejou de diferentes formas, e me deixou um recado para 2013: apostar na simplicidade e no decorrer dos dias. Exatamente quando o fiz em 2012, obtive as melhores respostas e resultados: quando criei menos expectativas e deixei nas Mãos de quem realmente deveria deixar: a do Pai. E assim deve ser a tônica de 2013: sem tempo a perder criando falsas expectativas, e ganhando tempo fazendo dele um ano mais simples, leve. 

Não, o dia 1º de Janeiro não significa uma metamorfose do Wanderlei do dia 31/12. Ele continuará o mesmo, com seus erros e acertos. Mas a virada de calendário, como todo ano-novo traz consigo, pode significar luta nova, recomeço, resoluções, impulso para o novo, como bem diz meu santo favorito. Ano Novo = Luta Nova, em cima do que não deu certo em 2013. E como disse, o foco está justamente nesse tempo que vem e pede para ser apostado naquilo que vale mais a pena.

Quero desejar a todos os amigos e leitores daqui um FELIZ 2013. Um ano cheio de tempos bem aplicados naquilo que faz realmente valer a pena, e não no que passa e quando você olha pra trás, diz: "caraca, no que foi que me meti", como certo amigo disse uma vez. E se você está no time dos "calejados" que vão lutar para que em 2013 não escape o que escapou em 2012, te digo: tamo junto!

Uma boa luta nova e tempos novos a todos nós, no ano de 2013 que começa!

São Paulo, 29/12/2012. W.E.M.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Crônica - Ano VI - Nº 189 - "Professor = para servir, servir..."


Em 2001, começava minha carreira profissional. Pela primeira vez, com 17 anos (tirando os 4 anos anteriores onde ajudei meus pais no bazar de casa) iria enfrentar a rotina do trabalho. Bater ponto, correr atrás da condução, vestir o terno ou a roupa social e ir "trampar", em uma secretaria de cursos. Cheio de papéis, atendimento ao público, telefonemas, enfim... Seis anos.

Depois, em 2008 e 2009, uma consultoria ambiental e  de engenharia e uma secretaria municipal. Também papéis, mapas em Autocad, mesa e micro, aquela rotina de escritório. Algo mais próximo de minha formação. Dois anos.

Entretanto, eu não estava feliz. Praticamente nove anos de trabalhos burocráticos, roupas sociais, aquele sufoco da vida de escritório e bate-pontos, entre muitas outras coisas que, no fundo, me deixavam um tanto decepcionado, como bem diz a letra da música "Ouro de tolo". E parti em busca de respostas.

Finais de 2009. E vem na mente uma resposta para minhas indagações: queria servir mais. Sentir um retorno maior do meu trabalho, olhar de maneira mais palpável os frutos de minha dedicação de horários, de esforço... Sinceramente, nos meus trabalhos anteriores poucas vezes tive essa sensação a qual eu buscava. E então, resolvi partir para uma nova empreitada: a docência.

Docência? Professor? Pirou, Wanderlei? Sim, tive que ouvir muitas vezes essa exclamação na época em que resolvi encarar a docência. Muitos me desencorajaram, inclusive hoje colegas de profissão. Quiseram a todo custo me fazer voltar atrás, falando de uma educação supostamente falida, da "má qualidade dos alunos", do salário de fome e inúmeros outros motivos. 

E chega meu primeiro dia de trabalho como professor. Me lembro até hoje a data: 8 de Fevereiro de 2010. O lugar? Uma escola a dois minutos de minha casa, de fama complicada tanto de estrutura como de alunos e bairro. O Dorô. Quis ir para o olho do furacão, "me jogar". O porquê? O fato de querer retribuir ao lugar onde cresci, apesar dos pesares,  o diploma que um mês atrás tinha conseguido.

A recepção dos colegas? Não poderia ser melhor. Rapidamente o papo foi sendo construído. Ideias trocadas, ambiente conhecido, avental a postos e pra cima das aulas. Hora de encarar os alunos.

A receita para a boa aula? Uma prece ao Professor, um leve beijo no avental (como sempre faço discretamente ao colocá-lo, tal qual o sacerdote beija sua estola, ao se paramentar para sua Missa) doses cavalares de dedicação e respeito ao aluno, uma boa fala e conteúdo e... simbora. Era, então, ver no que essa história daria.

O resultado não poderia ser melhor. 

Passaram-se quase três anos desse acontecido. Muitos alunos, salas, dias ótimos, bons ruins. Tal qual num relacionamento, a docência terá dias em que as aulas encaixarão, os alunos vão vibrar, irão se dedicar mais que o professor. Terão alguns outros, no entanto, em que nem o Papa conseguiria fazer a coisa engrenar, ficando aquela sensação de que "poderia ser mais". Mas sempre - isso, sempre! - , perseverança, não desistir do trabalho feito. Continuar apostando na seriedade, no respeito, no querer dar sua aula como se fosse a última. Superando desafios incontáveis: problemas de estrutura, vaidades, murmurações, "rasteiras" - sim, elas existem, e como existem no ambiente escolar. Aliás, essas rasteiras e bloqueios pareceram aumentar nos últimos tempos, como se me desafiassem nesse ideal a que me propus. Pois podem vir, que os peitarei.

Me achei profissionalmente. Descobri onde esse servir poderia ganhar corpo. Hoje sirvo: meus alunos, meus colegas professores, minha Escola. Hoje a profissão docente toma conta da alma, a ponto dela invadir os sonhos na madrugada, as preocupações de final de semana, até a hora do almoço. Me vejo como professor 24 horas por dia. Alguns poderão me questionar financeiramente, perguntar se sou ou não reconhecido, falar dos problemas existentes e muito mais. Até com certa razão, pois muita coisa há por fazer e melhorar. Entretanto, o que são elas quando, ao tocar do despertador, se vai com prazer ao seu lugar de trabalho, se faz o que se gosta e, ao olhar para trás, vê que nada te faltou e você tem hoje aquilo que deseja? Não, meus amigos, não há sensação melhor. Por essas e por outras que perdi o medo das segundas-feiras. Já me peguei ansioso por elas... só para ir exercer aquilo onde me achei. Em silêncio, sem ficar contando ou esperando méritos ou feitos: eles, se houverem, fico certo de que falarão por si. Aliás, se há méritos de alguém nesses quase três anos, são dos alunos, da molecada. Não seria nada sem eles. Meu trabalho não encontraria sentido.

Professor? Para servir, servir, servir. Servir a garotada, com um trabalho empenhado e que talvez não agora, mas lá adiante eles possam fazer uso. Servir o local onde cresci. Servir a mim mesmo, já que fica aquela sensação de resposta para aquela indagação de anos anteriores: "para quem vai meu trabalho?". Eis a resposta para passar os dias, meses, anos sem perder o pique e a motivação de ser, com muito orgulho de meus alunos, professor: continuar servindo.  

Um viva ao serviço, um viva à docência!

São Paulo, 15/10/2012. W.E.M.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Crônica - Ano V - Nº 188 - "Seja você"


Confesso a você, amigo leitor: não irei mais prometer crônicas par ali, ou daqui a pouco, ou daqui a tantos dias. É melhor, tal como afirmei recentemente a alguns amigos, que ela flua naturalmente, tal qual surge a inspiração para a poesia. É até melhor assim, pois as palavras surgem ao natural, para mais uma crônica!

E por falar em "ao natural", hoje gostaria de falar justamente sobre essa questão. Afinal, nos dias de hoje é cada vez mais frequente encontrarmos o ecletismo em todas as questões. Fazer média com as outras pessoas, ficando em cima do muro, acendendo velas a São Miguel e ao diabo, como diz o ditado, mesmo que isso custe a personalidade.

Uma anedota famosa de que lembro é a do homem, da criança e do burro. O homem ia caminhando com seu filho, e guiando com uma corda um jumentinho. Ao cruzar com uma senhora, essa lhe disse: "Puxa, homem: seja pai! Coloque seu filho em cima do burrinho, e prossiga! Você tem burro de carga para quê?". Assim fez o homem. A seguir, outra senhora solta o verbo: "Que criança sem coração! O pai cansado de trabalhar, e ela vai folgada no lombo do burro!". Assim, pai e filho trocam de lugar. Um velhinho, ao cruzar o caminho, solta: "Pai irresponsável! Põe a criança para andar enquanto fica aí, folgado, sobre o burro!". Então, ambos montam sobre o burro. Até cruzar uma senhora: " É de cortar o coração! Ambos aí, em cima do burro, cansando o animal"... E a história começa outra vez!

Será que vale a pena tentar agradar a todos? Correr atrás por mudar de opinião, de time, de credo, mal ouça uma crítica ou posição contrária?

Não, não vale a pena. Pois aí matamos nossa característica marcante: a personalidade.

Um dos fascínios que a raça humana ainda sugere é essa variedade de personalidades. Uma mais calma, outra mais arisca e ácida; um discreto, outro extrovertido; um que curte pôr seus santos do dia e músicas cafonas, outro que curte postar suas fotos de banheiro e suas músicas clássicas. É de dar asco pensar numa humanidade padronizada,com pouca variedade de gênios e jeitos de ser. Se esses jeitos de ser ou gênios são compatíveis ou fazem obras boas, é outro papo. Mas para agora, é importante o respeito a essa variedade de comportamentos, e a consciência de que devemos saber que elas existem. E como existem!

Um dos passos para garantir nossa eficácia é ser quem devemos ser: nós mesmos. Isso não é fácil: muitas vezes, não sabemos quem nós somos, ou então renegamos o que somos, a nossa identidade, para não ficarmos mal. Ficamos "mornos", sem ser contundentes e passando por essa vida de maneira apática, pouco somatória aos outros e a nós mesmos. E, para conseguirmos o que queremos, só faltava aquela dose de ação, "presença", como se diz aqui na quebrada.

Dizer o que está certo ou o que está errado em nossas ações (fugindo do seco maniqueísmo) começa quando  primeiramente nós mesmos somos o que somos, com transparência e sem médias. Quando agimos e nos comportamos com o coração, sendo autênticos, a missão de se buscar a verdade fica muito mais facilitada. Não podemos ser pessoas que se deixam levar pelo mimetismo, por querer agradar aos demais ou para ser uma caricatura de quem poderíamos ser, na realidade. Aliás, pensemos: não é verdade que, quando vemos uma pessoa mimetista  soa esquisito, chato, vulgar? 

E, se não agradarmos, se despertarmos críticas ou calúnias com nossas ações, sem estresse, pois é natural. Uma pessoa que age e deixa rastro naturalmente marca presença e incomoda, e devido à pluralidade de comportamentos naturalmente vai chocar. E é bom que choque, que saia do cômodo canto morno. Revoluções e levantes são feitos graças a essas pessoas, que lutam com sua autenticidade como arma e que fazem ouvidos moucos aos que lhe criticam por criticar ou para amoldá-los em seus gostos, numa temível tentativa de padronização. Bora agir e ser quem devemos ser, e que gostem da gente também de acordo com o que somos e pensamos, tal qual devemos fazer para com nosso próximo: curti-los mesmo que seus pensamentos sejam divergentes aos nossos. Que bom que seja assim: ótimo argumento para sentarmos em uma mesa de bar e discutirmos com civilidade.

Não sejamos mornos, nem mimetistas. Sejamos quem devemos ser, com encanto próprio, caráter próprio, ideias próprias. Esses chamam muito mais a atenção e são mais atraentes com suas "cores vivas" que o apagado tom de cinza.

São Paulo, 17/09/2012. W.E.M.